O Largo...

O largo da minha aldeia, hoje, é um sitio com muita nostalgia e solidão. Como muitas outras aldeias a minha também tinha o largo da Estação, noutros tempos a entrada da aldeia e o local de encontros, despedidas e reencontros.

Recordo-me dos tempos idos em que o comboio cá passava e as gentes de cá e de lá se apeavam e toda a gente acorria ao largo para saber novidades, recordar familiares e amigos ou, simplesmente, conviver. À sombra das velhas nogueiras se passaram grandes tardes, lançaram-se cartas, dados bordou-se, descobriram-se segredos, trocaram-se olhares, começaram paixões e tantas outras coisas...

O largo que viu partir e chegar de pessoas, o largo que assistiu a nascimentos e mortes, o largo onde vivemos as alegrias e as tristezas, o largo onde rimos e chorámos, o largo que viu chover, fazer sol e até nevar hoje é um lugar fantasma. O comboio deixou de passar cá já faz muito tempo, as pessoas emigraram e morreram. Hoje, as tardes do largo são uma mistura de chilreio dos pássaros e som do vento!!...

Os carris ferrugentos apenas me lembram os tempos áureos da minha aldeia, os tempos em que o comboio apitava ao longe e tudo acorria ao largo, a porta de entrada da nossa aldeia. Não havia habitante que não passasse a tarde no largo, e todos nós tínhamos um sonho, embarcar no comboio e todo o largo haveria de acenar-nos, ir a local incerto, à França onde estavam emigrados muitos filhos da terra ou apenas à sede do concelho...

Hoje morreu o comboio dos meus sonhos, há duas décadas a estação fechava-se, as nogueiras veriam o último comboio silvar e serpentear até ao horizonte, naquele fim de tarde, e toda a magia perder-se-ia... Anos oitenta, os jovens saíram, os velhos ficaram velhos, o largo perdeu-se. Hoje com as lágrimas nos olhos, sento-me no largo e vejo apenas casas fechadas, os ramos das nogueiras agitam-se ao rumo do vento e os pássaros de um lado para o outro atarefados.

Olho para a estação fechada e lembro-me das gentes que por aquela porta saíram, relembro o dia 25 de Abril de 1974, a novidade chegara de comboio, o comboio com que sempre sonhei e no qual nunca viajei. Pareço ouvir o apito ao longe mas é um sonho; já faz muito tempo que o largo não assiste a chegadas e partidas! Hoje, só os carris calcinados, as ervas na linha, o abandono e a minha sombra no cais sobreviveram!

Neste largo começaram amores, paixões, amizades, muitas delas foram ficando cada vez mais fortes mas hoje tudo acabou, o tempo passou, as pessoas morreram, o largo ficou...

O vento sopra, o largo assiste à morte de mais um dia e ao nascer de uma noite de lua cheia, igual a tantas outras onde se desfolhou o milho, contaram-se anedotas e tantos serões aqui se passaram, a cantar, a chorar ou a rir... Hoje o silêncio tomou a posse deste lugar, invadido pela tristeza e recordação.

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